[Jogos e brincadeiras tradicionais]
Desafie o apelo dos aparelhos eletrônicos e ensine às crianças brincadeiras tradicionais, que movimentam o corpo e desenvolvem a coordenação motora
TEXTO E FOTOS: NARA DE LOS ANGELES
5 de abril de 2017
O sino bate na Escola Casa das Letras. É hora do recreio! No pátio, a garotada se espalha. Lancha, bate papo, corre, balança, escorrega, brinca de pique-pega, pula corda, pula elástico. Os minutos de intervalo passam e ninguém se lembra de jogos no tablet ou no celular. Assim como era antigamente. Que legal!
Mas, fora do ambiente escolar, como a criança brasileira se diverte? “Já não brinca, canta nem constrói brinquedos como outrora”, observa o professor de Educação Física, Alexandre Rocha Sales, de 49 anos. Ele trabalha na Secretaria de Educação e Esportes de Goiânia. Lá, desenvolve projetos que resgatam o jeito de brincar do tempo de vovôs e vovós. Também é professor em uma escola particular da cidade e usa, nas aulas, um repertório de brincadeiras cantadas e jogos tradicionais.
Alexandre acredita que séries, desenhos e jogos eletrônicos colaboram para afastar as crianças do rico acervo de brinquedos e brincadeiras que a cultura popular oferece. Para saber como trazer de volta esse costume, com prática em instituições de ensino e segundo as possibilidades do dia a dia das famílias, a Escola Casa das Letras entrevistou o professor e foi assistir a uma das apresentações que ele faz em escolas públicas da prefeitura da capital. Leia e divirta-se também!
Escola Casa das Letras – Aqui, na escola, o professor de Educação Física, Marcos Augusto Franco de Almeida, o tio Guto, inclui brincadeiras e jogos tradicionais no planejamento das aulas. Qual é a importância de promover esse resgate cultural, em meio ao fácil acesso a games para celular, tablet e computador? O que as crianças ganham com essa descoberta?
Alexandre Rocha Sales – O contato, desde cedo, com jogos e brincadeiras tradicionais é, seguramente, umas das alternativas mais eficazes no combate à massificação e colonização cultural. É fundamental que as crianças experimentem esse rico acervo, que percebam que esse brincar remete à história de vida dos pais e avós. Outro aspecto importante é que, dessa forma, elas movimentem o corpo de maneira lúdica e saudável, livrando-se do sedentarismo.
Casa das Letras – Que brincadeiras e jogos as crianças preferem, quando apresentadas às possibilidades, e quais ainda são praticadas?
Alexandre – Elas adoram brincadeiras que as desafiem e que, ao final, apresentem um vencedor – embora vencedor, para mim, é quem brinca e se movimenta. Cada faixa etária tem preferências, mas existem unanimidades, como burro-preto ou gorila, as diversas variedades de pique, bandeirinha individual e coletiva e brincadeiras cantadas. Pular corda e pular elástico ainda são atividades bastante praticadas e permitem muitas variações. Há uma infinidade de brincadeiras que resistem ao tempo, como barra-manteiga, mamãe-da-rua, chicotinho-queimado, bete e os piques.
Casa das Letras – Qual é a reação das crianças e adolescentes, quando entram em contato com uma aula ou evento que apresenta sobre o assunto: surpresa, interesse ou desânimo?
Alexandre – A reação, geralmente, é de encanto. Adolescentes podem se opor, muitas vezes, por uma série de questões. Alguns estão acomodados e reconhecem como atividade física somente os esportes, principalmente o futebol. Daí a necessidade de incluir, no planejamento das aulas, brincadeiras desafiadoras e de ação para que se envolvam, além de pesquisas sobre o tema e atividades que os façam se sentir sujeitos do processo. Por mais que haja resistência, não podemos deixar de oferecer aos alunos essas vivências. Seria como se, na aula de matemática, o aluno dissesse para o professor que só quer somar, pois é do que gosta. As brincadeiras, tradicionais ou não, fazem parte do conteúdo da Educação Física e são um tema interdisciplinar, que pode ser abordado por diversas áreas do conhecimento. O maior obstáculo, na minha opinião, é a “esportivização” da Educação Física, principalmente por parte de adolescentes que se opõem a tudo que não seja futebol, por exemplo.
Casa das Letras – Como as escolas podem adotar métodos de ensino multidisciplinares que levem jogos e brincadeiras tradicionais para a sala de aula, enriquecendo conteúdos?
Alexandre – Por meio de projetos, pesquisas e ações. Tenho experiências de sucesso, em trabalhos de assessoria, nos quais as escolas fecharam as vias circunvizinhas para resgatar brincadeiras tradicionais que eram realizadas na rua. As possibilidades são muitas. O que é trabalhado e exposto em sala, vivencia-se nas aulas de Educação Física. Nada impede um professor de outra área levar os alunos para o pátio e brincar também. Isso seria fantástico!
Casa das Letras – Deixe um recado para os pais, professores e alunos.
Alexandre – Existe um documentário de que gosto muito e indico. Chama-se Tarja Branca – A Revolução que Faltava, do diretor Cacau Rhoden. Ele apresenta depoimentos de pedagogos, músicos, atores e pesquisadores em brincadeiras. O filme é uma consagração do ato de brincar como parte fundamental do desenvolvimento humano. Há uma fala marcante de uma das pesquisadoras entrevistadas. Ela diz que brincar é urgente. Isso resume minha angústia. É preciso, cada vez mais, levar a discussão sobre a importância do brincar para o meio acadêmico e para as escolas. Segundo o folclorista Bariani Ortêncio, o saber sem o fazer torna a sabedoria efêmera, como fogo de palha. Então, mãos na massa! Que cada um faça a sua parte para que tenhamos um mundo mais alegre, lúdico e muito melhor!
Entre na brincadeira
Como criar uma rotina de brincadeiras ao lado dos filhos
- Evite presenteá-los com brinquedos eletrônicos e estipule dias e horários para essa prática
- Leve-os para o playground, parques e clubes
- Ofereça brinquedos que os façam gastar energia e brinque junto
Alegria em dose dupla
Ao lado da atriz, professora e contadora de histórias, Ivone Cruz, Alexandre Rocha Sales realiza o trabalho Contação de Histórias e Brinquedos Cantados com Alexandre e Omelete. O violão Ariovaldo dá o tom. De repente, crianças começam a acompanhar letras de cantigas populares, como Sambalelê, Terezinha de Jesus, O Cravo Brigou com a Rosa e da música inicial, que manda a timidez embora e traz alegria. Confira a letra e os gestos que a acompanham e, no vídeo, o ritmo (o vídeo foi gravado no dia 31 de março, na festa de aniversário da Escola Municipal Paulo Teixeira de Mendonça, em Goiânia). Depois é só brincar no recreio, em casa, no parque! O desafio é cantar cada vez mais rápido, enquanto alterna os movimentos com as mãos.
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A letra
Uá, tá, tá
Uá, tá, tá
Guli, guli, guli, guli
Uá, tá, tá (cante duas ou três vezes)
Auê, auê
Guli, guli, guli, guli
Uá, tá, tá (cante duas vezes e volte ao início)
Os gestos
Uá (bata palmas)
Tá, tá (bata nas pernas)
Guli, guli, guli, guli (posicione uma mão acima da cabeça, a outra abaixo do queixo e estale os dedos)
Auê, auê (levante os braços e balance-os de um lado para o outro)
Cursos revelam “brincantes em potencial”
Alexandre Rocha Sales gosta de compartilhar o que sabe. Desde a década de 1990, quando ingressou na Secretaria Municipal de Educação de Goiânia, ministra cursos para educadores. “Trabalhava em um departamento que coordenava a Educação Física na rede Municipal de Educação. A demanda era grande, por parte dos professores. Buscavam novas formas de brincar. Posteriormente, a equipe propôs um evento chamado Festival de Brinquedos e Brincadeiras Tradicionais. As escolas levavam os alunos para um determinado local e eles participavam de diversas vivências sobre o tema”, conta.
Alexandre lembra que, nessa época, acadêmicos de Educação Física assumiram os postos de brincadeiras. “Grande foi a surpresa, ao perceber que vários deles não conheciam muitas das brincadeiras. A partir do ano seguinte, passamos a desenvolver a formação desses acadêmicos para atuar em nossos eventos e isso foi muito positivo.” O professor diz que, hoje, propõe os cursos para educadores da rede municipal de Educação e universidades. “Fico surpreso com a receptividade dos participantes e percebo, neles, brincantes em potencial, que vão dar continuidade ao trabalho.”
AINDA DÁ TEMPO!
O próximo curso, Brinquedos Cantados, será realizado no dia 8 de abril, das 7h30 às 12 horas, na Vila Ambiental, no Parque Areião, em Goiânia. Inscrições até sexta-feira, pelo telefone: (62) 3524-4606.
Entre nessa!
Aprenda as regras de duas brincadeiras tradicionais para se divertir com a família e os amigos
PULAR ELÁSTICO
Faça assim
- Forme grupos de cinco a dez crianças. Duas delas seguram o elástico com as pernas, na altura do tornozelo, do joelho ou da coxa
- Dá para pular com os dois pés ou com apenas um
- A sequência: pule, com os dois pés, dentro do espaço formado pelo elástico. Pule para fora. Em seguida, pule para dentro e pule denovo, agora pisando no elástico. Pule para dentro outra vez e, depois, para fora. Pule para dentro e pule novamente, deixando uma perna dentro e outra fora do elástico. Pule para dentro com os dois pés. RepIta do outro lado. Volte para dentro e pule para fora. Do lado de fora, pegue o elástico e pule para o outro lado com os dois pés, sem pisar no elástico. Pule novamente, saindo pelo mesmo lado e solte o elástico. Volte para o lado que começou, repetindo os mesmos movimentos
- Se errar, passe a vez. Quando retornar, continue de onde parou
- Quem erra troca de lugar com quem está firmando o elástico para dar a oportunidade do colega brincar
- Vence quem concluir primeiro todos os níveis com os dois pés ou fizer também, com um pé, a mesma sequência
RELOGINHO
Faça assim
- Uma pessoa se senta no chão e gira a corda, passando de uma mão para a outra, enquanto os participantes, em círculo, têm de pular, como mostra a foto. Quando a corda passar, pule. Quem não conseguir pular e for atingido pela ponta da corta sai da brincadeira. O último a sair é o vencedor.
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